domingo, 15 de junho de 2008

Eu, ele e as cadelas


Eu amo cachorro. Não posso ver um na rua que me dói o coração, tenho vontade de levar pra casa. É um sentimento maior que eu, não consigo controlar e existe desde sempre dentro de mim. Vejo fotos da minha infância, antes de saber falar eu já amava os cachorros. Meu primeiro cachorro foi Teize, ele era o terceiro filhote e eu, ao contar, por não saber falar TRÊS, o chamei de Teize. Assim ele foi batizado, o levamos para casa e em muitas fotos apareço com ele em cima do meu velotrol, dividindo um biscoito, abraçados e sorridentes. Sim, para mim cachorros sorriem tanto quanto seres humanos.
Uma vez eu e Teize estávamos brincando, correndo um atrás do outro e, por mais que minha mãe alertasse para o perigo, a brincadeira estava irresistivelmente gostosa, que só paramos quando aconteceu o esperado: eu corri mais que ele e, para não machucá-lo, caí de cara no chão. Ou melhor, de dente no chão. Meu dente da frente afundou um pouco e ficou verde, minha mãe chamava de dente do Hulk e eu jamais me arrependi de ter poupado Teize.
Muitos anos depois veio Fluffy, um poodle muito louco, como todos os poodles são... Estava em casa um dia, minha mãe chegou do trabalho com ele numa caixa de papelão. Acho que estava comendo um sanduíche, joguei pro alto e fiquei com aquela bolinha de pêlo, ainda um filhotinho, tão lindo, sem dentes, peludo... Ele foi o companheiro da minha adolescência. Mimado e genioso, conseguia tudo o que queria... Comia pouca ou quase nenhuma ração, adorava morango com chantilly... Resultado: com menos de cinco anos Fluffy teve uma catarata que o deixou cego. Claro que ele se movimentava com destreza pela casa, mas sair para passear se tornou algo que o amedrontava. Viajei para os Estados Unidos e, um mês antes de minha volta, minha mãe me ligou chorando pela primeira e única vez ao longo dos doze meses em que estive fora. Fluffy tinha morrido.
No final dos anos de faculdade, surgiram Burgha e Ash. Duas preciosidades, dois presentes em minha vida. Burgha é uma labrador preta, meiga e gulosa, linda. Pariu oito filhotes com minha ajuda e me possibilitou ver o que é a maternidade em sua forma mais pura. Quando eu ouvia dizer que as cadelas, ao parir, comem a placenta de onde tiram os filhotes, achava a coisa mais repugnante do mundo. Ao presenciar isso, me senti testemunha do milagre da vida. É lindo. Ash é uma weimaraner (isso mesmo, é uma raça alemã de cão de caça) dengosa e cheia de personalidade. Ash é minha parceira, meu bebê, minha alegria ao chegar em casa.
Não existe ser humano, por mais que te ame, que te receba todos os dias com carinho, devoção, felicidade. Burgha e Ash sempre que chego me encontram na porta com a maior cara de felicidade, rabos abanando, simplesmente porque cheguei. Isso ajuda a esquecer o dia estressante do trabalho, o trânsito infeliz de Salvador (assunto para outro post...), a discussão com o chefe, a dor de cabeça, enfim, torna a vida melhor.
Meu Amor se dedica a Burgha há quase três anos e é impressionante como, neste tempo, ela se tornou companheira inseparável dele, a interação entre eles é admirável. Eles têm brincadeiras um com o outro, com regras e tudo, que só eles dois conhecem. Têm códigos de convivência, ela não entra no banheiro, fica só da porta esperando ele sair do banho. Mas se vacilar, o sofá vira uma caminha onde ela se espalha e, quando é pega, sai de mansinho com cara de inocente...
Este post é a minha declaração de amor a essas duas cadelas, a minhas duas melhores amigas de quatro patas.
Claro que essa escolha não vem sem sacrifícios, quando viajamos é sempre um dilema "com quem vamos deixar as cadelas", mas o dia a dia com elas, a maneira como elas preenchem nossas vidas, as gargalhadas gostosas que nos proporcionam, valem a pena.
Uma vez fiz uma surpresa para meu Amor, era Dia dos Namorados e espalhei bombons com bilhetinhos pela casa, antes que ele chegasse do trabalho. Pois bem, quando ele chegou encontrou somente os bilhetinhos, porque os chocolates Burgha traçou... um por um.
Ash é tão inteligente, que caminha na rua como qualquer ser humano, numa pose que parece até estar de salto alto. Em casa ela manda em Ju, nossa assistente do lar. Ela fica em pé nas duas patas traseiras e abraça Ju com as patas da frente, faz isso todos os dias de manhã. Quando quer comer, ela avisa e depois de comer pede biscoitos caninos de sobremesa. Mas se ouvir qualquer barulho de fogos de artifício ou bombinhas de São João... ela fica enlouquecida, caminhando pela casa buscando um esconderijo.
Amo minhas duas amigas, que este ano completam oito anos e estão amadurecendo, chegando à terceira idade canina. Quero ter ainda muitos anos pela frente, com a companhia delas em nossas vidas.

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