domingo, 1 de agosto de 2010

Homenagem a Edelvira Wanderley Moreno – minha avó.


Ela completará 96 anos lúcida e cheia de vontade de viver. Costumo dizer que, se pudesse ganhar um corpo novo, viveria mais cem anos.
Meus avós paternos e avô materno morreram quando eu ainda era pequena demais para lembrar deles, então a referência que construí durante a infância é de minha avó, mãe de minha mãe. Não estou sendo redundante aqui, estou reforçando a importância dos nossos laços porque eles definem a mulher que eu me tornei.
Minha avó tem uma história de vida impressionante, mas não vou começar a contá-la por quando o pai dela abandonou a mulher e os filhos em Barreiras, oeste da Bahia, para se casar de novo e se tornar um dos políticos fundadores de Londrina.
Quero começar pelo momento em que minha avó traçou os destinos de seus filhos e conseqüentemente dos netos também. Ela e meu avô trabalhavam numa fazenda, quando o filho mais velho concluiu o primário e ela decidiu que eles tinham que se mudar para a cidade, para que ele iniciasse o ginásio.
A patroa deles se surpreendeu e com muita naturalidade lhes disse: estão fazendo besteira, filho de pobre só precisa saber ler, escrever e fazer contas. Fiquem aqui e logo ele poderá ajudar vocês com o trabalho na roça.
Minha avó fez as malas e foi para Barreiras. Ela, meu avô e a família de 13 filhos que tiveram. O meu tio que iniciou a cruzada pelos estudos, minha mãe conta que ia para a escola com a farda, de camisa e colete e jamais podia tirar o colete para brincar no intervalo das aulas, porque a camisa por baixo estava furada nas costas, de tão surrada. Ele terminou os estudos e se formou em Medicina. Depois vieram os mais novos e um a um todos foram incentivados a estudar e se formar.
Minha mãe, com todo seu ímpeto e motivações que somente quem a conhece sabe do que estou falando, recusou o magistério e ainda no ginásio veio para Salvador, estudar no colégio Sacramentinas como bolsista. Depois, num tempo em que vestibular tinha até prova oral, passou para a Faculdade de Direito da UFBa. Ela se formou e anos depois me ensinou a dar valor ao conhecimento.
Mas não esqueçamos da personagem principal aqui, minha avó. Como eu disse, foi ela quem determinou os destinos de todos nós... lhe sou eternamente grata por isso.
Cresci indo passar férias com ela e meus tios em Barreiras, corri descalça, subi em árvores... ah, o pé de siriguela... que saudade! Brinquei tanto e fui tão feliz no quintal da casa de minha avó, com primos, galinhas, gatos, coelhos e tudo o mais que aparecia por lá.
As balas puxa que ela sempre fazia, as pombas de maroto que faz até hoje, o crochê que sentada na cadeira de balanço ia tecendo, junto com as histórias que contava sobre sua infância, seu primeiro amor – meu avô, a infância de minha mãe e meus tios, espiritismo... E assim os dias iam passando, felizes, entre a poeira e as chuvas no telhado.
Obrigada, vó e força, quero que você volte logo para casa, porque a Copa de 2014 ainda está longe e é lá que iremos comemorar os seus 100 anos!!!

6 comentários:

Letícia Viana disse...

Linda homenagem, Letícia!! O mundo está cheio de Edelviras (não tantas com essa idade) mas pouca gente se lembra de valorizá-las. Meus avós maternos também têm quase 100 anos e história de vida semelhante. Sairam da roça para seus 7 filhos estudarem. Só não cursou faculdade e se formou quem não quis!!!

Gill disse...

Não tenho palavras para expressar a sensação que senti quando li seu POST meu amor. A vida é algo sem igual que vincula gerações e gerações. Hoje já não tenho meus avós comigo, não aqui ta terra, mas sim em meus sonhos e dentro do meu coração.Vamos ter fé que tudo ficará bem e iremos também curtir essa copa de 2010 e vó Dadá e os nossos... Cheirinho!

Carla Gentil disse...

É impressionante amiga como a estória de nossas avôs maternas se comunam em uma só liturgia....no seu caso sua mãe foi bolsista, no meu a minha mãe, foi empregada das Irmãs Sacramentinas, para que pudesse estudar, tornou-se freira, e hoje é uma das mais respeitáveis médica no interio rem que mora, e pela UFBA também.....foi com a lição de vida de minha avô e minha mãe que também construiram a minha integridade, moralidade e personalidade.....
Parabéns pela homenagem, muito bonita....bjs

Mariluse disse...

Filha, adorei sua homenagem e ela ,sua avó,com certeza vai se emocionar ao ler sua manifestação de amor e carinho...
Vamos preparar a festa dos 100 anos!!!

Anônimo disse...

Oi, Ticia!
Prima, que linda homenagem para vovó.
Eu sinto muita saudades do que não vivi quando pequena. Sinto saudades do quintal que não brinquei, do pé de siriguela que não subi, das quedas que não tomei, dos primos que não brinquei.
Sinto saudades do contato que não tive.
O que me deixa feliz é todo o contato que tive com ela neste último ano, onde pude conversar com ela muito por telefone, dizer que a amava e ouvir dela o mesmo.
Ela era uma mulher incrível. E vc tem mesmo o que se alegrar, pois vc conviveu de perto com uma guerreira, uma lenda...a avó que amei mesmo de longe, mas vc amou de perto. Bjs, Bella Moreno

Unknown disse...

Linda homenagem mesmo viu, infelizemte so tive conhecimento dessa rica personalidade que foi sua vó hoje, mas pude constatar quanta riqueza ela trouxe a essa regiao.Sou de uma familia Moreno que veio de Angical/Barreiras a muitos anos. Meu bisavo se Chamava Manoel caetano Moreno e gostaria muito de saber se por ventura ele tinha algum laço familiar com os Morenos da parte de seu avô o senhor Custodio Moreno, ficarei agradecido tb de saber como consigo o livro que sua avó escreveu.
Grato wanderson Barbosa
p.s. meu email é wandersonbarbosa1982@hotmail.com.