segunda-feira, 30 de junho de 2008

A Lei Seca no Brasil

No primeiro post eu disse que este blog não traria apenas textos sobre Direito, mas que, por ser esta minha atividade profissional, eventualmente temas jurídicos seriam aqui discutidos, pensados, refletidos.
Na faculdade estudamos muitos conceitos, mas ao longo da vida e com a experiência profissional adquirida, sinto-me à vontade para formular eu mesma a definição para algumas coisas. O Direito, para mim, é um reflexo da sociedade à qual ele serve. Nem toda Lei já criada pelos homens e seus Governos, se submetida a uma análise hoje, seria aceita pelos cidadãos. Basta fazermos uma incursão pela História, não precisamos ir muito longe, para perceber que: até o início do século passado as mulheres não tinham permissão para votar. Nos anos 60 negros tinham banheiros, bebedouros e assentos de ônibus separados dos brancos nos Estados Unidos. No Brasil, até 1977 casamentos eram indissolúveis. Isto para citar alguns exemplos.
Introduzo o assunto falando de Leis ultrapassadas, para demonstrar que Leis são normas que refletem as necessidades da sociedade.
Pois bem, atualmente, a combinação bebida e trânsito MATA. E, infelizmente – sem hipocrisia, nem sempre mata somente o inconseqüente que “só tomou duas cervejinhas”. Mata gente inocente que está num ponto de ônibus indo ou voltando do trabalho. Mata crianças que atravessavam a rua voltando da escola. Mata famílias inteiras que viajavam de férias noutro carro ou ônibus. MATA.
E, se o que temos de mais precioso é a vida, como não preservá-la? Pois é, o ser humano tem dessas... Ele se acha tão próximo e semelhante a Deus que quer agir como se fosse imune ao álcool. Daí sai de casa, bebe, bebe mais um pouco, pede a saideira, entra atrás do volante de um carro e MATA. Quando não MATA mas é pego numa blitz policial, fica irritado. Afronta o policial e berra que não está embriagado.
Entrou em vigor a Lei 11.705/08, que regulamenta e modifica alguns artigos do Código de Trânsito Brasileiro. Leiam, conheçam a Lei. Importante frisar aqui, para os leigos, que nenhum cidadão pode alegar que descumpriu uma Lei por desconhecê-la.
Tenho assistido várias reportagens desde que a Lei entrou em vigor, cada uma mais ridícula que a outra. Patético ver profissionais de renome do jornalismo nacional, comendo uma sobremesa de papaya com licor de cassis, somente para depois assoprar no bafômetro e mostrar que o equipamento acusa um nível de álcool elevado. Ou bochechando com enxaguantes bucais, ou comendo bombons de licor com a mesma finalidade.
VAMOS DEIXAR DE SER IMBECIS!
Quer beber? Dê uma festa em casa e convide os amigos. Quer beber num barzinho ou boate? Combine antes a volta com um amigo que não vai beber, ou chame um táxi! Melhor que MATAR.
Semana passada foi feriado de São João em todo o nordeste, a Bahia não é exceção. E, como sempre, em meio a vários acidentes, vários mortos. Nesta triste estatística, uma colega de trabalho, que morreu esmagada por um ônibus, quando voltava com a família das festas, em direção a Salvador. Morreram ela, um filho e uma cunhada. O marido e outro filho permanecem internados. O motivo do acidente? Adivinhem...
Confesso que escrevi este post com raiva, cheia de indignação, por sermos tão idiotas às vezes. Adoro o Brasil, os brasileiros, mas não me conformo com a pergunta: será que essa Lei “vai pegar”? Pergunta mais boba. As opções são simples: parar de beber e dirigir. Ou MATAR. Ou pior, morrer.
O vídeo é uma forma de amenizar as palavras duras e parabenizar o pinguço que preferiu a bicicleta ao carro...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Pode acreditar... tá acontecendo

Há meses a população de Salvador vem sendo bombardeada por peças publicitárias da Prefeitura. São comerciais de TV, outdoors, placas gigantescas nas ruas. O responsável pela campanha, num relampejo de genialidade, escalou um grupo, que inicialmente entoava em ritmo de arrocha o seguinte hit:
“É obra que não acaba mais... e pode acreditar que ainda vem mais! Pode acreditar... tá acontecendo... o que você sonhou é a Prefeitura de Salvador!”
Com a chegada dos festejos juninos, tentaram mudar o ritmo e o grupo, desta vez aparecia um trio nordestino e em ritmo de forró entoava a mesma música. Não deu certo. Então voltou o grupo original, agora em ritmo de forró, com um novo hit:
“Tá ficando bom demais, tá ficando bom bom bom... “
Pela cidade foram espalhados outdoors que fazem menção à Guarda Municipal (que nenhum cidadão soteropolitano ainda viu nas ruas), o metrô (a obra mais demorada de todos os tempos e que ainda não está em funcionamento), o banho de luz (faltou água nesse banho... ops... o banho é de luz, mas que luz?), o banho de asfalto (hum... e esses buracos na cidade toda, todos fugiram do banho?!), o complexo viário Dois de Julho (por enquanto, um par de tratores revolvendo terra na rótula do Aeroporto de Salvador, que para absoluto desespero dos que ali trafegam diariamente, continua engarrafando que é uma beleza!) e muitos outros feitos épicos que somente a criatividade de um profissional da publicidade pode garimpar para trazer à tona.
E ainda com um slogan que “manda” a população acreditar, porque está acontecendo...
Não sou filiada a partido político algum, sou simplesmente mais uma eleitora que em outubro irei às urnas. E quando acredito que os maus políticos desse país atingiram o cúmulo da cara de pau, da desfaçatez, da usurpação do erário público... Que nada! Eles se superam e me surpreendem com sua capacidade em manipular, enganar, e ainda fazer alarde disso na TV, rádio, ruas da cidade.
O que “ta acontecendo” há quase quatro anos em Salvador é um acinte àqueles que votaram nos representantes que assumiram a administração da cidade. Salários dos servidores municipais atrasados, leite da merenda escolar apodrecendo em galpões, trânsito C A Ó T I C O, multas pipocando com radares que se multiplicaram pela cidade e agentes de trânsito despreparados, escolas e postos de saúde completamente abandonados, ruas sem iluminação pública, cheias de buracos, sujas, propícias aos freqüentes assaltos, enfim... pode acreditar, é isso que “tá" acontecendo.
Infelizmente, quando a população foi às urnas mais uma vez para eleger Governadores, Senadores e etc, ainda inebriada pelas “mudanças”, para mostrar ao grupo que antes dominava o pedaço a sua insatisfação, elegeu pai, irmão, cunhado e lá se foi a família inteirinha para mandatos de 4, 8 anos.
Hoje a decepção está estampada nos rostos, é explicitada nas conversas em cada esquina, em todas as camadas sociais, aqueles que votaram no atual Prefeito se dizem decepcionados e juram que, desta vez, votarão diferente.
Eu só posso rezar e esperar pelo melhor. Não confiei a ele o meu voto antes, e lamento a administração desastrosa que imperou em Salvador pelos últimos anos.
Este post foi criado a pedido de meu Amor, que também foi conquistado pelos jingles da Prefeitura...

domingo, 15 de junho de 2008

Eu, ele e as cadelas


Eu amo cachorro. Não posso ver um na rua que me dói o coração, tenho vontade de levar pra casa. É um sentimento maior que eu, não consigo controlar e existe desde sempre dentro de mim. Vejo fotos da minha infância, antes de saber falar eu já amava os cachorros. Meu primeiro cachorro foi Teize, ele era o terceiro filhote e eu, ao contar, por não saber falar TRÊS, o chamei de Teize. Assim ele foi batizado, o levamos para casa e em muitas fotos apareço com ele em cima do meu velotrol, dividindo um biscoito, abraçados e sorridentes. Sim, para mim cachorros sorriem tanto quanto seres humanos.
Uma vez eu e Teize estávamos brincando, correndo um atrás do outro e, por mais que minha mãe alertasse para o perigo, a brincadeira estava irresistivelmente gostosa, que só paramos quando aconteceu o esperado: eu corri mais que ele e, para não machucá-lo, caí de cara no chão. Ou melhor, de dente no chão. Meu dente da frente afundou um pouco e ficou verde, minha mãe chamava de dente do Hulk e eu jamais me arrependi de ter poupado Teize.
Muitos anos depois veio Fluffy, um poodle muito louco, como todos os poodles são... Estava em casa um dia, minha mãe chegou do trabalho com ele numa caixa de papelão. Acho que estava comendo um sanduíche, joguei pro alto e fiquei com aquela bolinha de pêlo, ainda um filhotinho, tão lindo, sem dentes, peludo... Ele foi o companheiro da minha adolescência. Mimado e genioso, conseguia tudo o que queria... Comia pouca ou quase nenhuma ração, adorava morango com chantilly... Resultado: com menos de cinco anos Fluffy teve uma catarata que o deixou cego. Claro que ele se movimentava com destreza pela casa, mas sair para passear se tornou algo que o amedrontava. Viajei para os Estados Unidos e, um mês antes de minha volta, minha mãe me ligou chorando pela primeira e única vez ao longo dos doze meses em que estive fora. Fluffy tinha morrido.
No final dos anos de faculdade, surgiram Burgha e Ash. Duas preciosidades, dois presentes em minha vida. Burgha é uma labrador preta, meiga e gulosa, linda. Pariu oito filhotes com minha ajuda e me possibilitou ver o que é a maternidade em sua forma mais pura. Quando eu ouvia dizer que as cadelas, ao parir, comem a placenta de onde tiram os filhotes, achava a coisa mais repugnante do mundo. Ao presenciar isso, me senti testemunha do milagre da vida. É lindo. Ash é uma weimaraner (isso mesmo, é uma raça alemã de cão de caça) dengosa e cheia de personalidade. Ash é minha parceira, meu bebê, minha alegria ao chegar em casa.
Não existe ser humano, por mais que te ame, que te receba todos os dias com carinho, devoção, felicidade. Burgha e Ash sempre que chego me encontram na porta com a maior cara de felicidade, rabos abanando, simplesmente porque cheguei. Isso ajuda a esquecer o dia estressante do trabalho, o trânsito infeliz de Salvador (assunto para outro post...), a discussão com o chefe, a dor de cabeça, enfim, torna a vida melhor.
Meu Amor se dedica a Burgha há quase três anos e é impressionante como, neste tempo, ela se tornou companheira inseparável dele, a interação entre eles é admirável. Eles têm brincadeiras um com o outro, com regras e tudo, que só eles dois conhecem. Têm códigos de convivência, ela não entra no banheiro, fica só da porta esperando ele sair do banho. Mas se vacilar, o sofá vira uma caminha onde ela se espalha e, quando é pega, sai de mansinho com cara de inocente...
Este post é a minha declaração de amor a essas duas cadelas, a minhas duas melhores amigas de quatro patas.
Claro que essa escolha não vem sem sacrifícios, quando viajamos é sempre um dilema "com quem vamos deixar as cadelas", mas o dia a dia com elas, a maneira como elas preenchem nossas vidas, as gargalhadas gostosas que nos proporcionam, valem a pena.
Uma vez fiz uma surpresa para meu Amor, era Dia dos Namorados e espalhei bombons com bilhetinhos pela casa, antes que ele chegasse do trabalho. Pois bem, quando ele chegou encontrou somente os bilhetinhos, porque os chocolates Burgha traçou... um por um.
Ash é tão inteligente, que caminha na rua como qualquer ser humano, numa pose que parece até estar de salto alto. Em casa ela manda em Ju, nossa assistente do lar. Ela fica em pé nas duas patas traseiras e abraça Ju com as patas da frente, faz isso todos os dias de manhã. Quando quer comer, ela avisa e depois de comer pede biscoitos caninos de sobremesa. Mas se ouvir qualquer barulho de fogos de artifício ou bombinhas de São João... ela fica enlouquecida, caminhando pela casa buscando um esconderijo.
Amo minhas duas amigas, que este ano completam oito anos e estão amadurecendo, chegando à terceira idade canina. Quero ter ainda muitos anos pela frente, com a companhia delas em nossas vidas.

sábado, 7 de junho de 2008

A luz de Gisele

Ontem foi o casamento de Gisele e seu Amor. Apesar de indicar, no convite, o horário de 20:15h, na Bahia existe uma cultura de ninguém ser pontual, então até os convidados se atrasam, imagine a noiva!
Como tudo foi organizado em pouquíssimo tempo, a cerimônia religiosa e a festa aconteceram no mesmo espaço, o que, cá entre nós, é bem mais confortável para os convidados. O deslocamento é um só, ficam todos sentados já confortavelmente bebericando enquanto esperam os noivos. Muito melhor que uma igreja quente, com todos suando horrores, bico seco, e o inconveniente de depois ter que iniciar uma peregrinação até o local da festa...
Acho que ficou meio óbvio minha aversão a este tipo de festa, detesto casamentos. O padre/pastor/bispo/pai de santo/ médium ou sei lá mais o que já há disponível hoje, com o mesmo discurso empoado, volta e meia errando no nome da noiva ou do noivo.
Não é exagero! Noutro casamento de uma grande amiga de infância o padre errou o nome dela TODAS as vezes durante a cerimônia, além de ter mencionado o segundo nome, que ela odeia. Imagine, pior é saber que pagaram para ele estar ali, “dando sua benção”...
Sem contradição alguma, adoro Bodas de Prata, Ouro, Diamante... Ali sim, há verdadeiramente um casamento a ser comemorado. Uma vida de idas e vindas, amor e desentendimento, mas prevalecendo aquele. As amigas de minha mãe estão nesta fase, assim como algumas tias. E compareço a essas festas com todo prazer do mundo, felicíssima em ver a família formada, com filhos, netos, bisnetos... O casal ainda disposto a demonstrações públicas de afeto, a valsar e tirar fotos sorrindo, reafirmando o amor que os uniu muitos anos atrás. LINDO.
Nas últimas semanas fui acometida de uma gripe sem fim, estou há dias sem dormir nem comer direito, agora na fase da tosse de cachorro. Mesmo assim, cheguei em casa, após um longo dia de trabalho, como todos os outros, tirei forças nem sei de onde, e fui, com meu Amor, para o casamento de Gisele.
Pura consideração, a alguém que, em tão pouco tempo, me cativou. Falei dela antes no blog, quando soube que ela nos deixaria para ir com seu Amor rumo à Capital Federal. Fiz questão de ir ao casamento, para dar-lhes as minhas bênçãos, meus desejos de boa sorte, felicidades, saúde na nova vida que se apresenta à frente dos noivos, agora recém casados.
Gisele era uma das noivas mais lindas que já vi, radiante, cheia de luz, de alegria em estar realizando um sonho: casar com o homem que ama. Lindo mesmo.
À parte, a mesa do pessoal do trabalho, presentes estavam Agnes (maquiagem e cabelos impecáveis) e seu irmão, Saldanha com a Sra. Saldanha (que atrasaram mais que a noiva...), Fabíola (de cabelos novos), minha grande Amiga, com seu noivo Gaúcho.
Infelizmente, devido ao meu estado de saúde, não pude coletar informações suficientes para uma resenha decente no blog, até porque, o que mais importa é desejar aos queridos e lindos noivos muitas felicidades. Mas, vou dar continuidade aqui à enquete iniciada pelo meu amigo Gaúcho: qual a capital de Porto Alegre?

domingo, 1 de junho de 2008

Pedofilia

Tenho um ditado muito pessoal que costuma causar polêmica entre aqueles que não me conhecem: o animal mais cruel que existe é o homem.
Digo isso porque conheço um pouco da natureza humana, o que é suficiente para me fazer querer continuar na ignorância quanto à maioria que desconheço.
Obviamente a crueldade humana não a torna menos interessante, ao contrário, nos fascina tentar entender uma mente tão complexa e perturbada. Sim, não estou ainda falando dos que sofrem de patologias, me refiro a todos nós. Todos somos complexos e, em maior ou menor grau, perturbados. Seja por às vezes odiarmos a quem amamos, ou amar a quem deveríamos odiar, seja por optar escalar uma montanha sem oxigênio e a temperaturas baixíssimas, para simplesmente chegar ao cume e então fazer todo o caminho de volta.
Todos os outros animais seguem os instintos mais básicos, se têm fome, buscam alimento, se têm sede, bebem água, se têm medo, atacam, quando crescem se reproduzem e, com sorte, após completar o ciclo da vida, morrem.
O ser humano criou uma série de outras necessidades, instintos que não se resumem a comer, beber, sobreviver e morrer. O homem lida hoje com uma epidemia mundial de obesidade, porque fez das refeições um universo de sabores, cheiros, cores, substâncias, texturas, e com isso o que menos importa é o instinto de se alimentar para sobreviver. Queremos prazer à mesa, companhia, ambiente climatizado, serviço cortês, pratos e talheres limpos. O homem reinventou esta necessidade tão básica, fez dela uma arte.
E, num mundo onde se busca o prazer em comer, em beber, em vestir, em consumir, nascem também as necessidades que não podem ser comentadas com os colegas de trabalho, nem mesmo com familiares ou amigos. Surge a necessidade de sentir prazer com a dor alheia, humilhar para se sentir importante, escravizar para se sentir livre.
Volto a dizer, o ser humano é o animal mais cruel que habita este planeta. É capaz de sorrir e apunhalar pelas costas não apenas um semelhante, mas seu próprio pai, mãe, ou mesmo filho. Capaz de oferecer a uma criança doces e brinquedos, em troca de algo que jamais lhe será devolvido: sua inocência.
É tão chocante que as pessoas nem comentam com o mesmo entusiasmo com que debatem sobre um assassinato ou qualquer novo escândalo político. O assunto é noticiado, mas constrange tanto a todos, que logo sai das manchetes e volta aos porões de onde saiu.
O erro está justamente aí. Pais, mães e educadores, ao invés de orientarem as crianças, para não serem vítimas de pedófilos que rondam suas casas e escolas, se escondem do assunto, que ainda é tabu. Palavra mais estúpida essa: tabu. Verdade pura, tanto que pouquíssimos deixam de lado a vergonha para protegerem suas crianças, explicarem, usando uma linguagem que elas entendam, que nenhum adulto tem o direito a mexer com seu corpo, tocar suas partes íntimas, beijar sua boca, lhe oferecer sexo antes que tenham se desenvolvido e despertado para isto.
Nosso maior erro está em termos vergonha de falar, explicar, conversar com as crianças. Prepará-las para se defender do monstro da pedofilia que as caça através da Internet, do portão da escola, ou dorme no quarto ao lado do seu.