Já faz algum tempo que venho ensaiando escrever sobre a mulher e sua evolução ao longo dos tempos, mas termino publicando outras coisas. Agora, devido a experiências de vida que foram partilhadas comigo, me senti quase que compelida a tratar deste tema.
Quando entrei na faculdade de Direito, o Código Civil vigente ainda era o de 1916, que trazia pérolas como em seu art. 233: "O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos". E não parava por aí... Art. 242: "A mulher não pode, sem o consentimento do marido: VII. Exercer profissão. VIII. Contrair obrigações, que possam importar em alheação de bens do casal. IX. Aceitar mandato."
Ao me formar, entrava em vigor o Código Civil de 2002, melhor adaptado à realidade da sociedade brasileira. Vejam o que diz o novo artigo acerca do papel do homem e da mulher na casamento: "Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família."
Algumas pessoas acreditam que as leis mudam as relações sociais, eu creio no oposto. As relações sociais é que mudam as leis, porque estas são reflexo daquelas.
Inegável que o começo de todo ser humano é sua mãe. Seu ventre, o que ela bebe, come... Mãe e filho são um só. Depois que nasce, durante os primeiros meses de vida, também é com ela que se formam os laços mais fortes, porque é ela quem amamenta, perde noites de sono, vigia. Depois de alguns dias ou meses é que pai e mãe conseguem dividir melhor as tarefas, mas o vínculo com a mãe é sempre mais forte. E justamente por isso não entendo a necessidade de algumas sociedades em insistir na submissão e humilhação feminina. Fico imaginando que cidadãos este tipo de conduta forma, sem respeito àquelas que são a imagem de quem lhes deu a vida, alimentou, ensinou o que é amor.
Entendo que cada ser humano tem seu próprio tempo de trevas e luz, ignorância e conhecimento, então talvez estes povos ainda tenham um longo caminho a percorrer, até se darem conta do que perderam preocupando-se em subjugar a mulher, usar a força sobre a inteligência, violência para dominar o espírito feminino... Porque homens e mulheres são sim diferentes, mas se completam, não falo apenas enquanto casal, mas na convivência.
Nós mulheres temos uma força interior que transcende a física, emana pelos nossos poros, contagia com uma energia diferente aqueles que nos cercam... Mas isso somente floresce em condições favoráveis, impossível alguém emanar positividade enquanto é massacrada. Assim como o canto de um passarinho preso tem menos brilho que aquele ouvido ao longe, enquanto ele mergulha pelo céu.
"Há quem tente lapidar uma mulher como se lapida jóia rara e pedra bruta. Com escalpelo cinzel buril inscrevem nela uma figura, depois a expõem nos salões revistas e altares apregoando quantos camelos quantos colares vale o dote -da criatura. Na Nigéria também lapida-se mulher mas de forma inda mais dura. Não bastassem os muros em que viva vive emparedada é sob pedras que a mulher viva é pétrea e friamente sepultada quando não se conforma com a forma como desde sempre é deformada. Assim a mulher que se nega a ser por eles esculpida deve morrer como viveu: -petrificada. Atiram-lhe tantas pedras até que não se veja a forma e o sangue da apedrejada, até que a mulher-alvo alvejada desapareça numa maré de pedras coaguladas. Desta feita os escultores foram mais perfeccionistas deixaram a mãe amamantar o filho antes que o leite no seio se petrificasse. Assim o filho na fonte beberia o pétreo ensinamento antes que a fonte secasse. Ao amante não lapidaram. Ali o homem já nasce feito é obra de arte que dispensa qualquer lapidação. A mulher, sim, carece de acabamento posto que imperfeita figura na ordem da criação."