domingo, 1 de junho de 2008

Pedofilia

Tenho um ditado muito pessoal que costuma causar polêmica entre aqueles que não me conhecem: o animal mais cruel que existe é o homem.
Digo isso porque conheço um pouco da natureza humana, o que é suficiente para me fazer querer continuar na ignorância quanto à maioria que desconheço.
Obviamente a crueldade humana não a torna menos interessante, ao contrário, nos fascina tentar entender uma mente tão complexa e perturbada. Sim, não estou ainda falando dos que sofrem de patologias, me refiro a todos nós. Todos somos complexos e, em maior ou menor grau, perturbados. Seja por às vezes odiarmos a quem amamos, ou amar a quem deveríamos odiar, seja por optar escalar uma montanha sem oxigênio e a temperaturas baixíssimas, para simplesmente chegar ao cume e então fazer todo o caminho de volta.
Todos os outros animais seguem os instintos mais básicos, se têm fome, buscam alimento, se têm sede, bebem água, se têm medo, atacam, quando crescem se reproduzem e, com sorte, após completar o ciclo da vida, morrem.
O ser humano criou uma série de outras necessidades, instintos que não se resumem a comer, beber, sobreviver e morrer. O homem lida hoje com uma epidemia mundial de obesidade, porque fez das refeições um universo de sabores, cheiros, cores, substâncias, texturas, e com isso o que menos importa é o instinto de se alimentar para sobreviver. Queremos prazer à mesa, companhia, ambiente climatizado, serviço cortês, pratos e talheres limpos. O homem reinventou esta necessidade tão básica, fez dela uma arte.
E, num mundo onde se busca o prazer em comer, em beber, em vestir, em consumir, nascem também as necessidades que não podem ser comentadas com os colegas de trabalho, nem mesmo com familiares ou amigos. Surge a necessidade de sentir prazer com a dor alheia, humilhar para se sentir importante, escravizar para se sentir livre.
Volto a dizer, o ser humano é o animal mais cruel que habita este planeta. É capaz de sorrir e apunhalar pelas costas não apenas um semelhante, mas seu próprio pai, mãe, ou mesmo filho. Capaz de oferecer a uma criança doces e brinquedos, em troca de algo que jamais lhe será devolvido: sua inocência.
É tão chocante que as pessoas nem comentam com o mesmo entusiasmo com que debatem sobre um assassinato ou qualquer novo escândalo político. O assunto é noticiado, mas constrange tanto a todos, que logo sai das manchetes e volta aos porões de onde saiu.
O erro está justamente aí. Pais, mães e educadores, ao invés de orientarem as crianças, para não serem vítimas de pedófilos que rondam suas casas e escolas, se escondem do assunto, que ainda é tabu. Palavra mais estúpida essa: tabu. Verdade pura, tanto que pouquíssimos deixam de lado a vergonha para protegerem suas crianças, explicarem, usando uma linguagem que elas entendam, que nenhum adulto tem o direito a mexer com seu corpo, tocar suas partes íntimas, beijar sua boca, lhe oferecer sexo antes que tenham se desenvolvido e despertado para isto.
Nosso maior erro está em termos vergonha de falar, explicar, conversar com as crianças. Prepará-las para se defender do monstro da pedofilia que as caça através da Internet, do portão da escola, ou dorme no quarto ao lado do seu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mais uma vez, com toda propriedade, você conseguiu definir, em poucas linhas, até onde a ignorância pode incentivar a disseminação da crueldade. É uma pena, realmente, que conceitos e valores se percam em meio a tantos tabus, em nome, pura e simplesmente, de um moralismo às avessas. Mais uma vez parabéns pelo texto, pois demonstram não apenas valores e princípos que fazem parte de seu caráter, mas sobretudo porque você os vivenciam, diariamente.
Beijo enorme.

Anônimo disse...

Medo.. eu tenho medo dessa sociedade hipocrita, que acha tudo bem uma mulher ser chamada de melancia e achar graca ela dancar o "créu". Tenho medo dessa sociedade que acha tudo bem educar a crianca na escola e esquecer os valores basicos que se aprende em casa. Estamos vivendo a reacao dessas pequenas coisas que, de grao em grao, formam a tempestade de areia que bloqueia nossa visao. E é nessa mesma tempestade que aproveitamos para nos esconder. Beijos.